quinta-feira, janeiro 14, 2010

Diários de Bicicleta

É o nome do livro que o David Byrne, ex-Talking Heads, escreveu sobre suas experiências à bordo de sua bicicleta dobrável. Ele usa a bicicleta como seu principal meio de transporte há décadas em Nova York, cidade onde vive, e nas cidades em que passa fazendo turismo ou a trabalho. Ele também tem como hábito escrever uma espécie de diários de viagens, relatando suas percepções dos lugares que passa - os comentários vão desde a personalidade das cidades, como as pessoas se socializam, até a natureza e fauna do lugar, como com os morcegos de Sidney - na maioria das vezes pedalando. O livro é uma coletânea de alguns destes textos e foca algumas cidades que passou - "Comecei aos poucos e me senti muito bem, mesmo aqui nesta cidade. Passei a me sentir mais livre e bem disposto... A mesma sensação de liberdade que experimentei em Nova York me acompanhou enquanto eu pedalava por várias das maiores capitais do mundo." "Esse ponto de vista - mais rápido que uma caminhada, mais lento que um trem e muitas vezes ligeiramente mais elevado do que uma pessoa - passou a ser minha janela panorâmica em grande parte do mundo ao longo dos últimos 30 anos - e continua sendo."

Gostei muito do 1o capítulo, com textos sobre cidades americanas e sua transformação com o passar dos tempos. De forma geral, aconteceu com muitas delas o mesmo que em São Paulo - decisões erradas deram prioridade ao "progresso", aos carros, à construção de mega-avenidas, soluções que tornaram a cidade mais dura e difícil de viver. São Paulo não é definitivamente uma cidade simpática aos ciclistas ou mesmo aos pedestres - dirigi-se muito rápido, os carros tem prioridade sobre os pedestres ao cruzar ruas mesmo existindo faixas, as pessoas são agressivas e acham que tem mais direitos que as outras. Ele comenta que muitas cidades costumam ter uma via expressa ao longo das margens de seus rios, essas áreas costeiras foram vistas como o local ideal para construi-se avenidas largas e rápidas. Como consequência, pouco a pouco, os rios foram ficando poluídos, os bairros próximos a estas avenidas foram virando bairros fantasmas que se desvarolizaram - e se perdeu o contato das pessoas com os rios. É o caso da Marginal Pinheiros e Tietê (principalmente). Quem costuma passar por elas tem consciência da degradação que tomou conta dos seus bairros vizinhos, pessoas que antes moravam próximas ao rio tiveram que sair destes bairrose procurar outros lugares. O Evandro Carlos Jardim comentou que morava antes na atual Avenida João Dias, que antigamente era uma rua tranquila em um bairro afastado, onde se ia a pé para o Pinheiros pescar ou caminhar. Era uma várzea - hoje uma avenida movimentada e barulhenta 24 horas por dia. Para piorar nossa situação, o governo do estado resolveu construir mais 6 pistas extras na Tietê. O trânsito melhorará, facilitando a vida de muitas pessoas, mas vamos ficando cada vez mais distantes de recuperar o rio - ao menos o projeto de compensação ambiental é excelente, o maior do Brasil como dizem, com mais compensação do que o exigido por lei.

Algumas cidades estão mudando, vide o caso de Bogotá. Prioridade aos pedestres e ciclistas, ao transporte coletivo. Estive lá em 2009 e pude ver esta mudança - muitas pessoas usando bicicletas, respeito, educação. O mesmo vai acontecendo a passos lentos em São Paulo, o secretário do verde e meio ambiente, Eduardo Jorge, é sério e ele mesmo um ciclista. Bicicletários, transportar bicicleta no metrô e trens, ciclovias (ainda mirradas), ciclo faixa ligando os parques do Ibirapuera e do Povo. Há também agora forte investimento em transporte coletivo, vide o Expansão São Paulo. Há esperança, a tendência no longo prazo é que as coisas melhorem.

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