Tô bem feliz esta semana. Vou receber meus pais aqui em casa, eles vem nos visitar aqui em Vater Deutschland. É uma delícia essa expectativa, saber que é questão de poucos dias encontrá-los. Nesse momento eles estão no aeroporto, provavelmente já fizeram o check-in e estão lá ansiosos (não tanto quanto eu) pra embarcar e descer do avião do outro lado do oceano após 12 horas de viagem.
Meus pais são incríveis, tem suas qualidades e defeitos como qualquer pessoa ou qualquer pai ou mãe.
Sou muito parecido com minha mãe, tanto fisicamente quanto na personalidade. Os dois somos desorganizados, adoramos conversar, falamos pelos cotovelos e sonhamos, sonhamos e sonhamos. Aliás, sonhar é a coisa que talvez mais façamos na vida. Nossa cabeça não pára um minuto, estamos sempre e ao mesmo tempo felizes e infelizes, satisfeitos e irriquietos, buscando algo novo e diferente pra fazer. Minha mãe tem 55 anos, vai celebrar 56 aqui na Alemanha dia 24. É a primeira vez que sai do Brasil, que faz uma viagem longa de avião. Fiz minha primeira viagem pro exterior em 2000, fui com a Vi para os USA estudar inglês. Depois viajei muito para diversos países, tanto para passear como para trabalhar. Em todas as vezes minha mãe viajou comigo, não só no coração, mas na cabeça dela. Ela ficava viajando sozinha, imaginando como seria conhecer outros lugares, culturas, pessoas, cheiros, sensações. Quando contei para os meus pais que me mudaria por dois anos para a Alemanha, a primeira reação dela foi: "Não acredito. Filho da puta! Vai nos deixar..." e começou a chorar. Depois ficou durante mais de uma semana pedindo desculpas. Ela disse que foi a 1a vez que sentiu que o filhinho dela não era mais o filhinho dela, que era um homem, com interesses, personalidade e vida própria. Isso porque eu já estava casado há 3 anos. No dia seguinte fui buscá-la e passamos o dia juntos, fomos ao museu, tomamos um sorvete, caminhamos no Ibirapuera. Ela me contou que não conseguiu dormir, mas não porque ficou pensando no filho que ficaria longe, mas sim porque ficou se imaginando viajando pela Europa comigo e a Vi, caminhando pelas margens do Sena, assistindo um concerto em Viena ou procurando o muro em Berlin.
Meu pai é um caso especial. Não conheço pessoa mais ética no mundo. E também pessoa mais amorosa. Ele é muito fechado, tem uma dificuldade enorme de demonstrar os sentimentos, mas por outro lado não conheço ninguém mais transparente que ele. Se vê imediatamente o que ele está pensando, sentindo, desejando, basta olhar nos seus olhos. Quando meu irmão e eu viramos adolescentes, fomos vagarosamente nos distanciando dele. Coincidiu com a fase em que ele estava trabalhando e viajando mais do que nunca na vida. Nós desejávamos ser exatamente o oposto do que ele era, ter nossa vida própria, ser independentes, como todo adolescente chato. Essa distância aumentou muito com o tempo, às vezes penso que será difícil recuperar a relação que tivemos um dia. Houve uma fase complicada entre ele e meu irmão, os dois só brigavam, são muito parecidos, amor e ódio. Um belo dia se pegaram no pau, tive que entrar no meio e separar a briga. Foi o dia mais triste da minha vida, ver pai e filho se pegando. No meio da confusão, após eu ter levado uns bons socos de tabela, comecei a gritar e disse: "vocês são dois filhos da puta, são pai e filho, se amam, não deviam estar se batendo!". Ele ficou muito ofendido, não aceitou que eu gritasse com ele, apesar de eu estar falando a verdade. Isso aconteceu 6 meses antes do meu casamento e a partir desse dia ele ficou uns 5 meses sem falar comigo. Eu falava bom dia, boa tarde e boa noite, mas ele não respondia, fingia que não era com ele. 1 mês antes do casório resolvi falar com ele, disse que não aceitava essa situação, que não fazia sentido etc., que éramos pai e filho e blá blá blá, e o mais importante, que eu precisava dele do meu lado na hora do meu casamento, que ele, minha mãe e meu irmão eram as pessoas mais imporantes da minha vida e tinham que estar comigo nesse momento. Ele foi bem frio, disse que tudo bem, que me amava etc., porém não sorriu, não me abraçou, nada. Disse que eu podia contar com ele. Desde esse dia nossa relação melhorou muito. Ele focou todo o tempo livre dele para me ajudar com os detalhes do casório, comprou terno e sapato, tirou dois dias de folga antes do casório para se concentrar e nos ajudar, contratou uma mini-van para trazer a família do interior, fez tudo. Estamos cada vez mais abertos, discutimos cada vez mais nossas opiniões, dizemos mais o que sentimos. Estou recuperando aquele paizão que eu tive na infância. Quando moleques, meu irmão e eu jogávamos futebol, treinávamos etc., sonhando ser profissionais um dia. Meu pai nos levava para tudo o que era lugar, da Cidade Dutra à Vila Ema, do Campo Limpo a Guaianazes. Meus amigos de bola o adoravam. Muitos anos depois, sempre que eu encontrava algum deles, a primeira pergunta que faziam era como estava meu pai. Ele era o tio legal, o pai mas legal entre todos os pais de todos os moleques. Ele tem 54 anos, um a menos que minha mãe, vai comemorar 55 anos aqui também no dia 29.
Junto com este papo todo do casório, meus pais começaram a curtir mais a vida. Trabalharam sempre muiiito, guardaram dinheiro, mas nunca faziam nada para si mesmos. Desde então, eles começaram a viajar mais, voltaram a ir ao cinema, a passear, a curtir a vida. Isso me deixa muito, muito feliz. Essa viagem deles pra cá é o auge disso tudo, sinto que vai ser um momento incrível nas nossas vidas, um tempo curto e intenso, onde nos curtiremos e ofereceremos o melhor de cada um para o outro. Teremos 10 dias juntos, os dois viajarão sozinhos também, vão namorar e fazer uma pequena lua de mel européia. Nossa relação nunca mais vai ser a mesma após essa viagem.
Logo eles estão aí! É só contar os dias, não vejo a hora.
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7 comentários:
Poxa Zeca, que lindo que seus pais vao ai te ver hein!!!! Que dor de cotovelo!!!
Ce fica por essas bandas mais quanto tempo???
Pois é, o final de semana foi muito bom viu, ainda mais com a boa musica!!!
abraçao amigo
k
Oi K! Fico por aqui pelo menos até Junho/2008, mas tem chance de ficar mais tempo. Vai depender das discussões com a empresa que trabalho. Vamos ver...
Aww, que homenagem linda pros pais! Vai ser legal tê-los por perto bem nas comemorações, né. Eu morro de saudade dos meus. Vieram visitar ano passado em novembro e eu já tô roxa de novo. Aproveite-os muito. Beije, aperte, abrace.
Cheers-
muito legal esse texto zeca!
Espero que você aproveite bastante. faz dois anos minha mae e minha avó foram nos visitar em montreal e foi muito engraçado!
espero que vocês aproveitem, tenha paciência- o que imagino, tu tens e mostre bastante coisas legais pros dois.
um abraço
b.
Zeca, imagino que você esteja aí no colo do papai e da mamãe. Então, aproveita, e depois conta como foi o reencontro.
Zeca,
Nossa que declaracao de amor mais doce voce fez aos pais. Voce os descreveu de maneira tao intima que posso ate imaginar como eles sao sem conhece-los. Aproveite bem a oportunidade de reconectar com a sua familia.
Abracos,
Regina
Que delícia de post!
eu sou como vc e sua mãe, aliás, poderia ser sua mãe- temos quase a mesma idade, vixe.
Fico feliz e te ver feliz assim. Coisa boa ter pais assim.
Bj Laura
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